Uma aluna perguntou como eu consigo ficar longe do meu filho, afinal são quase 3.500 km de distância, ele apenas com 10 anos. Eu respondi: não penso, ou melhor, penso, coisas boas. Eu confio nas pessoas que estão com ele. Eu e o pai dele sempre tivemos um acordo não expresso verbalmente, de manter o “circo armado” como disse o pediatra. “Vocês armaram o circo e agora não podem simplesmente dizer que os palhaços não estão mais querendo brincar”. Quando ele falou isso, não me senti ofendida, porque o palhaço é a expressão da alegria para todas as crianças. E acho que manter uma saudável relação pós-separação para uma criança de dois anos é um dever dos pais, mesmo que seja difícil no início separar o real do ilusório.
E o caminho do Yoga tem me ajudado muito porque só podemos realizar a nossa vida quando estamos completamente absorvidos, envolvidos com o presente. Fiz uma escolha muito difícil ao me separar do meu filho para encontrar a mim, para iniciar a jornada da heroína, de cara limpa. E esta não é parte mais difícil, porque ele ficou com a família, com o pai. O desafio foi me convencer de que era o melhor que eu poderia fazer naquele momento. E ainda não me arrepender. Isto só se sabe depois que faz ou nunca se sabe.
Essa coisa de abandono é engraçada. Acho que todos já sentimos esta sensação de ser abandonado. Então um dia eu perguntei ao meu filho se ele se sentiu abandonado por mim. Ele disse que sim e meu coração se contorceu. E agora, que faço eu? E aí ele me contou que o abandonei lá no sul, quando estávamos na praia, ele tinha uns sete para oito anos, e não lembro o que realmente aconteceu, mas ele aprontou alguma que de certo não gostei. Então, deixei-o sozinho na casa por alguns minutos para refletir e fui caminhar na praia. Era bem perto de onde estávamos e o lugar era tranqüilo, vila de pescadores, todos nos conheciam. Sabia que ele estava seguro. E foi neste momento que ele disse que eu o abandonei.
Incrível! Isto é para refletir que nem sempre uma corda no chão vista à noite é uma cobra. E a filosofia do Yoga aponta na direção que nos leva a discernir (viveka) o real (Brahman) do ilusório (maya).
*Viveka” significa discernimento e que conquistamos quando nos tornamos o observador, que é uma parte na nossa mente que olha a si mesma, sem julgamentos, sem identificação.
Brahman: é tudo que está manifesto e imanifesto, desde o universo conhecido até o que ainda não conhecemos.
Maya: é a existência, onde os eventos são conhecidos, mas não representam a verdadeira essência do Absoluto, ou seja, Brahman. Maya seria como um parque de diversões onde brincamos, rimos, nos machucamos, gastamos o que não temos, e gostamos muito da Roda Viva. Tudo isto patrocinado por Brahman. É muito bom, mas não é tudo o que podemos desfrutar como seres em evolução, é apenas uma passagem para a consciência divina.
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