segunda-feira, 5 de julho de 2010

Será uma corda ou uma cobra?



Uma aluna perguntou como eu consigo ficar longe do meu filho, afinal são quase 3.500 km de distância, ele apenas com 10 anos. Eu respondi: não penso, ou melhor, penso, coisas boas. Eu confio nas pessoas que estão com ele. Eu e o pai dele sempre tivemos um acordo não expresso verbalmente, de manter o “circo armado” como disse o pediatra. “Vocês armaram o circo e agora não podem simplesmente dizer que os palhaços não estão mais querendo brincar”. Quando ele falou isso, não me senti ofendida, porque o palhaço é a expressão da alegria para todas as crianças. E acho que manter uma saudável relação pós-separação para uma criança de dois anos é um dever dos pais, mesmo que seja difícil no início separar o real do ilusório.

E o caminho do Yoga tem me ajudado muito porque só podemos realizar a nossa vida quando estamos completamente absorvidos, envolvidos com o presente. Fiz uma escolha muito difícil ao me separar do meu filho para encontrar a mim, para iniciar a jornada da heroína, de cara limpa. E esta não é parte mais difícil, porque ele ficou com a família, com o pai. O desafio foi me convencer de que era o melhor que eu poderia fazer naquele momento. E ainda não me arrepender. Isto só se sabe depois que faz ou nunca se sabe.

Essa coisa de abandono é engraçada. Acho que todos já sentimos esta sensação de ser abandonado. Então um dia eu perguntei ao meu filho se ele se sentiu abandonado por mim. Ele disse que sim e meu coração se contorceu. E agora, que faço eu? E aí ele me contou que o abandonei lá no sul, quando estávamos na praia, ele tinha uns sete para oito anos, e não lembro o que realmente aconteceu, mas ele aprontou alguma que de certo não gostei. Então, deixei-o sozinho na casa por alguns minutos para refletir e fui caminhar na praia. Era bem perto de onde estávamos e o lugar era tranqüilo, vila de pescadores, todos nos conheciam. Sabia que ele estava seguro. E foi neste momento que ele disse que eu o abandonei.

Incrível! Isto é para refletir que nem sempre uma corda no chão vista à noite é uma cobra. E a filosofia do Yoga aponta na direção que nos leva a discernir (viveka) o real (Brahman) do ilusório (maya).

*Viveka” significa discernimento e que conquistamos quando nos tornamos o observador, que é uma parte na nossa mente que olha a si mesma, sem julgamentos, sem identificação.

Brahman: é tudo que está manifesto e imanifesto, desde o universo conhecido até o que ainda não conhecemos.

Maya: é a existência, onde os eventos são conhecidos, mas não representam a verdadeira essência do Absoluto, ou seja, Brahman. Maya seria como um parque de diversões onde brincamos, rimos, nos machucamos, gastamos o que não temos, e gostamos muito da Roda Viva. Tudo isto patrocinado por Brahman. É muito bom, mas não é tudo o que podemos desfrutar como seres em evolução, é apenas uma passagem para a consciência divina.

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