terça-feira, 6 de julho de 2010

O corpo tem alma ou a alma tem corpo?




Aprendi nos livros de Teresa Bertherat, a percursora da antiginástica, que o corpo precisa, antes de tudo, ser respeitado. Impor posturas para o qual ele não tem condições de sustentar é no mínimo ser irresponsável e lá na frente recebemos o fruto da nossa irresponsabilidade, ou melhor, do nosso ego (ahamkara).

Segundo ela, temos um tigre. E ele ruge toda vez que não entendemos princípios básicos da relação com o corpo. Sofremos de encurtamento posterior do corpo e, segundo a sua mestra (Francoise Mezieres), este é o problema da maioria das pessoas. E o que fazem elas? Fortalecem as costas. E aí que está o grande erro. As costas já estão com excesso de rigidez, por causa das tensões musculares que entortam a coluna gerando escoliose, hiperlordose e outras oses. Ela afirma que precisamos criar força nas cadeias musculares anteriores, ou seja, na frente do corpo, que está solto, colapsado, sem força. Temos medo da queda, por isso encurtamos as costas. Levamos milhões de anos para nos colocar em pé, e o esforço foi tão grande que ainda temos o medo de cair, para frente, perder o equilíbrio. Ainda não sabemos nos manter na Linha (da Ida Rolfing), porque precisamos aprender a organizar nosso corpo, parar com a dualidade da mente, e encontrar o eixo que nos sustenta. A leveza do corpo se encontra quando conseguimos nos manter mesmo com todo o peso da gravidade. Este é o segredo, encontrar o centro do nosso ser. Rudhyar, astrólogo filósofo em seu tríptico astrológico afirmava que “no centro cessa a gravidade. Do centro, o indivíduo pode sair em qualquer direção que Deus lhe determine – o Deus em que ele se tornou”.

E depois de ler todos os livros de Terese Berterath, alguns de Stanley Keleman e um da Ida Rolfing, começo a entender um pouco mais o que o meu professor tem insistindo em suas palestras sobre Yoga, e que muita gente boa no meio, fica ofendida. Ele fala da tal conexão Céu e Terra, que foi o que gerou todas estas histórias e que se tornou, como ele mesmo sugeriu, um diário de bordo para ajudar aqueles que se aventuram pela primeira vez nesta ciência que é o Yoga. Ele explica as espirais de energia e da tridimensionalidade do corpo. Fala que a prática do Hatha-yoga é uma prática de conservação da energia, que se encontra dispersa em forma de pensamentos, emoções. Afirma que precisamos desenvolver a propriocepção do corpo para que possamos nos transformar fisicamente, mentalmente e espiritualmente.

Eu sei que ele não inventou nada. Ele é um grande pesquisador e usa seu corpo como um laboratório vivo. Entretanto ele afirma que o Hatha-yoga é tudo que precisamos para sermos plenos. Que entender as escrituras clássicas do Yoga, mas também a anatomia e a fisiologia, nos ajuda no desenvolvimento da nossa própria percepção. Precisamos, professores e alunos, ser mais curiosos a respeito do nosso corpo, porque ele é a fonte básica do conhecimento, do prazer e do sofrimento. Nossa biologia explica nossa biografia já disse Carolyne Miss em seu livro Anatomia do Espírito. Igualmente Keleman no seu livro O corpo diz a sua mente: ”a minha forma corporal particular, meu sentimento corporal particular é testemunha do meu caráter particular”. O corpo nunca mente, afirma ele.

Descobri que tenho uma relação de negação com meu corpo, porque desde cedo ele me incomoda (ou eu o incomodo?). Na fase de crescimento senti muitas dores nas articulações. Aos 20 anos sofria de dores no nervo ciático por conta de problemas posturais. Lembro-me do primeiro diagnóstico: o peso do meu corpo caía anterior ao sacro. Eu era magrinha, mas meu corpo pesava mais do que podia suportar. Depois engordei 14 quilos em dois meses, devido aos problemas nos ovários. E tudo piorou. O primeiro médico que fui já queria fazer uma cirurgia e tirar uma vértebra que eu tenho a mais. O diagnóstico do segundo médico deu a nítida impressão que eu iria chegar aos 30 anos numa cadeira de rodas. Quase fui para faca, mas antes usei colete para endireitar a coluna e palmilha porque uma perna era mais curta que a outra. Fiz muitas sessões com a tal fisioterapia da época. Penduravam meu pescoço numa tira de couro com um peso puxando. Colocavam meu corpo numa mesa que se abria no meio, acho que era para abrir espaços nas vértebras. No tempo da inquisição deviam usar estes recursos para torturas.

O terceiro médico foi aquele que me deu a mão e disse bem assim: você precisa se alongar e não se preocupe porque você não vai morrer por causa da sua coluna. Ele me mostrou, ali mesmo, na sua sala, alguns exercícios que eu poderia fazer.

É por essas e outras que desconfio de trabalhos terapêuticos corporais em que a participação do paciente é mínima. Não há como desenvolvermos o autoconhecimento se entregarmos ao outro a parcela da nossa responsabilidade em nos curarmos. Hoje tenho um amigo osteopata que para mim, é muito mais do que um profissional que encaixa as minhas articulações e vértebras. Depois de muitos anos sem ninguém tocar meu corpo, descobri esta pessoa de grande sensibilidade (e tamanho também!) que tem me ajudado no meu processo de cura, mas com o diferencial de respeitar as respostas que meu corpo dá à suas manipulações. Uno a minha prática de Hatha-yoga com as orientações que ele me passa, para que o tratamento tenha um resultado adequado.

Quando conheci o Yoga, aos 33 anos e já crucificada pelos meus erros, meu corpo era apenas uma forma para atender um padrão estético de magreza total, sem barriga e tudo durinho. Um corpo sem alma. Fiz muita musculação, tanto que na época me chamavam de Madonna. Depois larguei tudo isso, quando descobri uma artrose no pescoço. Foi somente com Yoga que comecei a ter resultados visíveis e tomar consciência do meu corpo e da alma em meu corpo.

Segundo B.K.S.Iyengar, “somos biologicamente determinados, por natureza, a buscar aquilo que favorece a nossa evolução”. Ou seja, temos todas as condições em nosso corpo para sermos plenos, já disse isso antes e repito. Se não é pelo amor que seja pela dor.

E como o Yoga, mais especificamente o Hatha-Yoga atua? O Yoga como prática corporal cria uma abertura interna entre nossas articulações, vértebras, órgãos, através das posturas (asanas). Esse espaço é um campo de possibilidades onde nossa consciência se manifesta, a percepção de “estar no mundo” se amplia. Ao criarmos estas aberturas internas, estamos nos abrindo para algo maior, além da limitada visão que temos da vida, para muito além do nosso umbigo. O Yoga nos leva a esta dimensão, que nos liga a todos os seres. A prática que fica apenas no corpo, dá saúde, bem-estar, mas restringe a ação do Yoga. Unindo tudo isto à respiração consciente e aos pranayamas (que é o controle da energia vital), o processo se potencializa e você se prepara para estados mais profundos desta ciência milenar.

Experimente um pouco: se você está sentado, sente com a coluna alinhada ou fique em pé. Procure expandir-se para além do corpo ao respirar de forma ampla, com toda a capacidade dos seus pulmões, mas não precisa puxar o ar com toda força, não. Vai mais leve, deixe que o movimento da respiração, aos poucos, vá criando aqueles espaços internos. O ar entra e com ele sentimentos bons de saúde e paz. Você deixa que o ar passeie por todas as direções dentro dos seus pulmões. Na frente, atrás, dos lados. Ao exalar, permite que todo ar saia, aos poucos, uma exalação longa, profunda e junto com ele pensamentos incômodos, emoções estagnadas.

Sinta que à medida que você vai fazendo esta respiração, o campo de energia ao seu redor começa a se ampliar e aquela sensação de abertura também. Dizem que para fazer Yoga precisamos apenas ter pulmões e coluna. Coloque também o cérebro e vai ver o que acontece! Você cria asas e nem precisa tomar red bull!

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