segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Amor que eu sinto!




Quantas partes de mim te acompanham quando você vai embora ou quando te deixo.
São laços que se expandem e atravessam montanhas, vales, planícies, águas e horizontes.
Meu amor vai junto em tua direção e me percebo amando tudo que te envolve, pessoas, animais, plantas, pedras, chãos e céus.
Tudo me abarca e me amplia, me consome e alimenta.
Amor amplidão, que não respeita tempo e espaço, rompe a ilusão de cada momento e cria a si mesmo, original, único e pleno.
Quando estamos próximos o amor é imediato: um olhar, um sorriso, um abraço, uma palavra.
Ao nos distanciarmos o amor fica suspenso e toda respiração se torna uma única respiração, para que eu possa estar onde você está e continuar sorrindo com você, abraçando você, olhando você em meus olhos, dizendo as palavras que só você pode entender.
O amor tem disso, é sem compromisso e compromete quem se deixa encantar.

Filho, te amo por tudo isso e por nada mais.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Pélvis quem tem? Só Elvis.




Esta frase eu escutei em uma dessas conversas filosóficas na TV. Quem disse isso afirma que as pessoas estão todas congeladas na pélvis. Comecei este texto lembrando isto para falar do meu quadril. Tenho um quadril falante. É verdade! Ele conversa comigo há muitos anos. No começo eu não prestava atenção, só que com o passar do tempo foi piorando e começou a berrar.

Já falei das minhas ”instabilidades sacro-ilíacas? Primeiro foram os passos, maiores que a perna, que eu sempre dei na vida. Sempre fui impulsiva, muito ar nas ideias, muita criatividade, muita iniciativa e pouca “acabativa”. Depois, foram os “pés na bunda”, que já contei anteriormente, e também do que alguém já falou: “um pé na bunda até que bota a gente pra frente”. Mas meu quadril fala e, às vezes, grita, como aconteceu num dia desses. E agora tenho certeza que sei porque ele faz isso.

Lendo sobre os sintomas das doenças e seus significados num dos livros de Rüdiger Dahlke, descobri que quando temos problemas nesta articulação é porque damos passos que não sustentamos e caminhamos apenas externamente. A cura está em dar passos menores e para dentro de si. Este, sim, foi uma tapa de luva de pelica. Passou um filme na minha cabeça. Toda a minha vida eu construí em cima de passos cambaleantes. E mesmo assim eu me assombro de como fui longe, tão longe que abri uma distância entre que realmente sou e que eu pareço que sou. Louco isso, mas todo mundo faz. Eu sempre achei que estava andando na direção da minha liberdade e acabei prisioneira das minhas suposições a respeito de ser livre.

Ter um quadril falante é uma experiência muitas vezes dolorosa, mas necessária no meu caso. Eu já estava fazendo mil planos de mudança na minha vida quando ele “ardeu” e me prostrei diante da dor e da impossibilidade de dar mais um passo para fora do mim. Eu me empolgo muito, mas hoje tenho aprendido a “escutar” outras vozes que não a minha.

Conversando com meu amigo osteopata sobre este assunto, ele também expressa que problemas de quadril refletem a falta de “jogo de cintura”, quando há muito rigidez na articulação provocando a sua imobilidade. E o contrário também é verdadeiro: o excesso de jogo de cintura deixa a articulação solta e ficamos “descadeirados”. Esse negócio de prender e soltar tem que ter um limite! Os problemas surgem quando ultrapassamos esses limites ou restringimos demasiadamente as possibilidades de ir além. É o famoso caminho do meio e o quadril é o meio do corpo, por assim dizer.

Segundo Ida Rolfing, neste local (articulação sacro-lombar) é onde o corpo encontra sua estabilidade, o equilíbrio apropriado que permite o seu movimento coordenado. Ela continua, citando que na visão da antiga fisiologia tântrica indiana, a pelve é reconhecida como a área que conserva a energia vital, a sede da Kundalini. Ela (a pelve) é importante para os praticantes de yoga, porque através das práticas yóguicas pode-se mobilizar um grande potencial de energia e que bem direcionada leva a estados de lucidez e de presença. Por isso que só Elvis tinha pélvis!

Neste momento agradeço meu quadril por dar seus berros e “restringir” meus impulsos. Volto minha atenção a esta articulação que sustenta os meus passos e me ensina que viver é ser, estar e permanecer, ou seja, ser quem eu sou, estar feliz onde eu estiver e permanecer em paz haja o que houver.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Os chakras e a paixão!




Em uma das aulas de yoga trago um assunto que interessa meus alunos: os chakras. Explico que cada centro energético está relacionado com um elemento: o primeiro chakra (sobrevivência, tribo, família) é terra. O segundo chakra (relacionamentos, sexualidade) é água. O terceiro chakra (poder, ego, auto-estima) é fogo. O quarto chakra (amor, compaixão) é ar. O quinto chakra ( expressão verdadeira, capacidade de colocar as palavras em ação) é o espaço ou éter. E como a aula era sobre o quarto chakra, fiz uma pequena ilustração de como estes chakras estão correlacionados numa situação hipotética em nossas vidas: a paixão. Expliquei aos meus alunos que quando nos apaixonamos, ficamos nas nuvens e a primeira coisa que fazemos é tirar os pés do chão, da terra. Acabamos com a terra (primeiro chakra) e ficamos enredados nas emoções (segunda chakra – água). O nosso “fogo” aumenta (terceiro chakra) e queremos “dominar” o outro com a nossa paixão e assim “sufocamos” (quarto chakra – ar) e deixamos o outro sem ar e ainda falamos que o amamos, ou seja, expressamos algo e agimos de outra forma (quinto chakra – éter ou espaço). Quando não há espaço para o amor o ar não se propaga. E quando o ar acaba, o fogo não tem mais como fazer a combustão e ele apaga. Começa a desilusão e nos derretemos em lágrimas (água) e voltamos à “dura” realidade (terra). Falei para meus alunos que “damos com a cara no chão”. Ficaram surpresos e expressaram um pouco de revolta com a minha linha de pensamento, mas perceberam que é isso mesmo que acontece.

Como é bom se desiludir, já disse Prof. Hermógenes. E como fazemos para mantermos nossos centros energéticos em equilíbrio? Bom, precisamos sentir o que nos move, qual chakra nos impulsiona, pois muitas vezes agimos sempre a partir deste centro e causamos desequilíbrio nos demais. Bater com a cara no chão, na porta ou em algo duro sempre nos traz para a realidade e a possibilidade de quebrar alguns ossos. Chorar até se debulhar é um processo de limpeza, purificação também pode nos deixar mais amolecidos. Aquecer o coração é bom, mas arder em chamas pode ajudar a torrar o ego e causar também uma úlcera ou coisa pior. Falar para se convencer que é verdadeiro e não agir nesta direção é perder a energia mais valiosa que temos: a palavra, e ainda por cima, dar com a língua nos dentes. Aí é que entra o discernimento que vibra no centro da testa e nos fazer “ver” com clareza as nossas insanidades. Desenvolver o bom senso é sempre a melhor coisa a fazermos e fique atento: quando há muita empolgação, aquela alegria desmedida que dá até vontade de dar uns saltinhos, talvez aí more o desequilíbrio. Pode dar os pulinhos, mas caia firme no chão, alinhe sua emoção, oriente seu poder, abra espaço em seu coração e expresse a sua natureza amorosa para que o seu sexto chakra (terceiro olho) possa a “ver” o que realmente é verdadeiro. E depois é só ir para abraço luminoso do sétimo chakra e se unir aos deuses que criaram a Paixão: Shiva e Sakti!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Começar de novo ou inovar a cada recomeço?



Dar aula de yoga não é algo que se aprende, mas que se vivencia. A gente pode conhecer bem as posturas, falar dos seus benefícios e seus nomes em sânscrito, montar uma sequência adequada, enfim, criar uma lógica para sustentar a prática do aluno. Mas só isso não é o suficiente para passar a essência do Yoga. Você só pode passar o que acredita, o que o seu coração expressa e está aberto para transmitir ao outro. Por isso eu aprendi com minha professora que é necessário alicerçar a prática com um tema. Ele cria um elo entre o aluno e a prática e dá um direcionamento à aula.

Então tenho sempre procurado trazer à tona um pouco dos ensinamentos do Yoga nas minhas aulas, buscando variar os assuntos e criando uma conexão entre a prática e o assunto abordado no dia. E num desses dias em que estava introduzindo o conceito do Ashtanga Yoga de Patanjali, uma aluna me perguntou em que ponto eu já estava na minha prática.

Eu olhei para o quadro onde escrevi sobre os oito níveis de conhecimento que o praticante de Yoga precisa acessar e aplicar na sua vida para conquistar a liberação (Moksha) e me dei conta que nem comecei a jornada. Olhei para ela e disse que ainda estava engatinhando e quando você pensa que dominou algum aspecto vem os samskaras (condicionamentos, pensamentos arraigados) e te derrubam. Falei para ela que existem pessoas que se dedicam integralmente ao Yoga e encontram a linha que lhe dá o suporte para esta jornada. Estas pessoas alcançam aquele estado de integração (Samadhi) em algum nível, porque são vários níveis de iluminação. Elas se transformam, mas continuam a jornada, pois percebem que há muito ainda a ser desvendado em si mesmo. O verdadeiro yogue é aquele que persevera.

E quando olhei para o quadro onde eu fiz as anotações decidi começar de novo, porque é assim que funciona e Iyengar (um grande professor de Yoga ainda vivo lá na Índia) já disse que todo dia a sua prática é nova, nunca é a mesma de ontem porque todos os dias estamos aprendendo a despertar para cada momento de nossa vida. O Yoga se faz a cada despertar, quando conseguimos nos desapegar de algo que nos prejudicava, quando abrimos mão de coisas fúteis em nossa vida, quando contemplamos todas as expressões da natureza, quando compreendemos o nosso lugar no cosmos e paramos de brigar por migalhas e nos tornamos guerreiros que buscam se libertar das prisões dos pensamentos condicionantes. Despertamos também quando o aluno nos faz "olhar para o quadro" da nossa vivência em relação ao Yoga.

Então pés no chão, coração aberto, mente elevada, e recomece a grande luta do despertar em que a guerra já está ganha, basta mudar o olhar, encontrar o foco e se lançar. A todo instante podemos traçar o nosso caminho, pois a estrada sempre estará lá, nos esperando. O importante é o caminhar, é entrar no fluxo e se lançar!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Vir à tona ou afogar-se?




Filho! Salve o texto que eu deixei aberto no teu computador porque vou dar aula agora!” E quando retorno ele me diz: “Mãe, sabia que você estava escrevendo sobre Yoga!“ Pois é! Se existe um assunto que me instiga, é este. Falei que já escrevi sobre ele nos capítulos anteriores, mas me disse que não quer ler. E me lembrei de um dia que escrevi um e-mail para ele (eu em Natal e ele em Curitiba) tentando justificar o injustificável. Escrevi sobre o que poderia ter escrito para ele naqueles anos de ausência, coloquei em palavras o que nunca poderia ser escrito, somente vivido. Então ele me respondeu: “Mãe, não precisa escrever nada, pois eu já leio faz tempo!” Então compreendi que ele sente quem eu sou e o que estou fazendo mais do que eu mesma posso compreender. Uns anos atrás, vendo um filme com criança, o meu coração de mãe se apertou e liguei para ele e pedi perdão por estar longe dele. Ele me respondeu com uma pergunta: “Mãe, você não está feliz? Isto é o que importa!” Desliguei o telefone e naquele momento comecei a ter dúvida se estava feliz. E como não posso evitar, recorro aos ensinamentos do Yoga que afirma que a felicidade plena é aquela que surge quando não temos dúvida, quando nossas escolhas são conscientes e vemos em tudo a perfeição. Independe de uma situação, de uma relação. Ela é e ponto final.

Então percebo o quanto sou feliz e como as pessoas sempre contribuíram em suas atitudes (positivas ou negativas, não importa) para que eu seja feliz. Meu filho é muito sábio e sempre demonstrou compreensão e aceitação pelas minhas escolhas que, de certa forma, transformaram a nossa relação. Fazer o que ninguém faz é arriscado, não há garantias. Entretanto, depois de ver tanta gente fazendo sempre as mesmas coisas e ainda se questionando se foi o certo, ou seja, ficando em dúvida, prefiro o risco de ter feito o que acreditava ser o melhor do que viver uma vida “morna”, como minha mãe uma vez falou, ou como diz o prof. Hermógenes, na normose.

Meu filho sabe que eu jamais me encaixaria nos padrões das mães da escola, das mães dos seus amigos, mas ele também é meio desencaixado por assim dizer. O fruto não cai longe do pé, não é mesmo? Eu e o pai dele sempre nos sentimos peixes fora d’água. De vez em quando, o peixe sobe para tomar um ar e, quando vai à tona descobre que existe outro mundo, outras possibilidades. O difícil é mergulhar novamente para a sua realidade.

Neste ponto gostaria de explicar o que não dá para explicar, mas acredito que o Yoga é este subir à tona, quando o peixe põe a cabeça para fora da água, e também é o submergir, quando ele retorna à vida marinha. O Yoga é este fio tênue que conecta as duas realidades e que, de tempo em tempo, podemos ir acessando sem morrer pela boca ao sentir a plenitude, ou sem se afogar na sua própria realidade!

Essa história de peixe me fez lembrar o que escreveu uma das mais atuantes professoras de Yoga que conheci em Natal que e que me convidou para fazer participar de um congresso de Yoga. Eu enviei um e-mail dizendo que nunca havia participado de nenhum congresso e que eu era como um peixe fora d´água. E me surpreendi com a resposta que ela me deu. Ela lembrou um dos primeiros discípulos de Shiva, Matsya, ele era um peixe e aprendeu Yoga vendo Shiva ensinar sua esposa Parvati. Ela escreveu que provavelmente Matsya deveria estar fora d’água. E continuo contando que Shiva vendo o interesse do peixe o tornou o primeiro a divulgar seus ensinamentos, dando origem à linhagem dos Nathas e do Hatha-Yoga. Achei muito simpático a colocação e adoraria ser esse peixe da mitologia hindu, mas não tenho muita habilidade dentro da água. Apesar de adorar as posturas que levam o nome de Matsya, gosto mesmo é de estar com meus pés bem firmes na terra, como a postura da montanha.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Outro papo de doido, ou o papo de doido é outro?




Quando estamos distraídos parece que a vida nos trai. E é neste instante que nos enganamos. Não há traição, há um grande equívoco por parte da nossa mente. No Yoga a mente é a grande articuladora da realidade em que vivemos. Como não percebemos o fluxo, criamos um tempo linear que se move do passado para o futuro e o quebramos em momentos (segundos, minutos, horas, anos, vidas) e, ainda pior, acreditamos que há continuidade.

De acordo com o físico Allan Wolf, esta história de tempo é a falsa ilusão que criamos para nos situar em algum lugar no espaço da existência, para sabermos quando temos que pagar as contas, ir ao dentista, tomar a pílula, marcar a cesárea, definir o fim de um relacionamento ou começar um novo, parar de ser ridículo e por aí vai.

E nesse ponto o Yoga, na visão mais tântrica, é genial, porque não há nada de errado nesta criação, ela apenas existe para o nosso benefício. E que beneficio? O de nos libertar dos nossos condicionamentos, de percebermos que o real e o ilusório são a mesma coisa e que só precisamos olhar para isto. É um olhar, um perceber que está além e também dentro do que criamos. Parece papo de doido? É e não é. Depende da percepção, de “abrir” a mente e não de esvaziá-la. De dar espaço para outras possibilidades. Só assim integramos e expandimos em consciência e liberdade.

Isso exige treino. Um treino do olhar. Uma atitude mais libertária, sem categorias, sem preconceitos de como as coisas devem ser. Isso bloqueia a nossa percepção, aliena e não agrega. Então vamos treinar. Temos muitas oportunidades ao longo de um só dia. Podemos começar com uma situação que nos aflige. Pare um instante, alinhe sua coluna, respire várias vezes com profundidade e entrega. Não queira controlar nada e abra o coração a cada respiração. Sinta como seu coração fosse pétalas de uma flor se abrindo e sinta a sua aflição, não racionalize, não defina, não explique, não julgue. Deixe que ela exista realmente e acolha, aceite, entregue e não espere nada.

Na principal escritura do Yoga, é ensinado que preciso de treino e desapego. Não diz que é para pararmos de pensar, e sim de olharmos para esses pensamentos e dar uma direção, um fluxo ininterrupto, de tal forma que não seremos mais distraídos ou “traídos pela vida”. Seremos, sim, atraídos para a plenitude desta e de todas as outras vidas.

Temos muitas situações para treinar e desapegar. Comece agora e só pare quando sentir-se leve como a risada de um bebê e livre como “uma calça velha, azul e desbotada que você pode usar do jeito que quiser, só não usa quem não quer...”. Esse era o jingle de uma propaganda de uma marca de calça jeans de um tempo que não volta mais. Era boa! E aproveito par citar uma frase retirada de um texto do blog do Kelmer e faço das suas linhas as minhas (será que dá?): “ Liberdade é sermos quem realmente somos em nossa essência mais legítima. É uma velha idéia azul e desbotada. Mas que nunca vai estar na moda. Ainda bem. “