terça-feira, 6 de julho de 2010

"Se Deus é menina e menino, sou masculino e feminino"




Fiz um livro de poesia. Reuni minhas inspirações deste os 16 anos até os 25 anos e saiu um livreto intitulado Simplesmente eu. Que título mais arrogante, não é mesmo?. Foi outra época da minha vida, mas bem que podería ser agora. Tem uma poesia que escrevi que se chama Eu e minhas amigas:


Nunca foram muitas
Não me dediquei o bastante
Mas já senti a sua falta
Quase todas casaram
Quase todas são mães.
Eu, no entanto
Brinquei de boneca muito tarde
E já não tinha mais jeito
Resolvi ser moleca
Só não matava bola no peito
Hoje não conheço minhas amigas
E não acredito que elas saibam de mim
Se encontrar na rua
Vou querer abraçar
Mas se faltar o abraço
Deixa pra lá.


Dei alguns cursos com o nome Resgatando o Feminino, usando práticas do Yoga. No início, como tudo, teve uma boa aceitação. E soube que muitas que fizeram o curso conseguirem resgatar algo e se foi o feminino não tenho certeza. Sempre aprendemos alguma coisa, mesmo com as piores, não é mesmo?

Hoje faço um balanço do que é o tal do feminino e tenho plena certeza que isto ainda é fruto da dualidade, porque somos os dois, feminino e masculino, e somos um ao mesmo tempo.

Entretanto, o feminino perdeu muito seu poder, tanto no homem como na mulher e, principalmente nesta última. E eu só posso resgatar o que eu já tive algum dia. E esta lembrança é que precisa ser resgatada. Apagaram de nós, ou melhor, colocaram a borracha em nossas mãos e nós é que apagamos tudo. Sempre temos escolha.

Eu posso falar do meu feminino e como tem sido para mim esse resgate. Antes de vir para Natal, era uma executiva. Fiz muita coisa: consultoria, área de compras, área de vendas de grandes corporações. Lembro perfeitamente que meu ex-marido dizia que eu não tinha meiguice, me faltava o feminino. Eu via isso como uma ameaça, ser feminina era “baixar a guarda”, abrir-se para e emoção e sentir-se dominada.

Separei, quase tive um câncer no útero e larguei tudo para vir para Natal, na primeira vez, em 98. Precisava curar as feridas da separação. Aumentei-as mais ainda e depois de um ano retornei à Curitiba.

Esta também é outra história, mas para encurtar, fiquei mais uns 5 anos em Curitiba, e depois de iniciar outros processos de negação do feminino (problemas de útero e mama), minha terapeuta na época me perguntou: Você quer morrer? Eu disse que não. E ela disse: Você já começou o processo de morte, só vai levar algum tempo. Ou você faz o que precisa ser feito (que naquela época era voltar para Natal, ir atrás do meu Graal) ou teu filho vai ficar sem mãe. Eu acreditei nela porque além de conhecer a minha história, era sensitiva.

E foi aqui em Natal, que iniciei o meu processo de cura e de resgate do feminino. Depois de oito anos separada, me abri para uma nova relação e virei uma mulher de casa. Dava aulas de yoga do lado da minha casa e depois cuidava do lar, fazia comidinhas gostosas, plantava, namorava e vivia uma vida simples. Foram três anos de cura e abertura para novos entendimentos. E dois destes três foram partilhados por uma amiga que morou conosco. Foi como uma irmã para mim, o que ajudou muito a também compreender o universo feminino. Agradeço a ela por todos os dias da nossa convivência, dos nossos cafés da manhã terapêuticos, do seu apoio incondicional ao resgate do feminino.

O que eu gostaria de dizer às mulheres que não se esqueçam quem vocês realmente são antes de serem esposas, mães, amantes, filhas, amigas. Lembrem de serem apenas mulheres, sem máscaras, sem se esconderem nos filhos, nas projeções do futuro, na presença do outro, na criança mimada.

No outro dia falei para um grupo de homens e mulheres que, infelizmente, nós mulheres caímos na armadilha da deusa, citada por Cris Griscom, e com ela levamos todos que nos rodeiam. Essa armadilha é a falsa concepção de que precisamos ser algo que não somos, de representar um papel que nem sempre estamos adequadas. E aí criamos um abismo entre os nossos amores. Fui aplaudida pelos homens e, talvez, intimamente repudiada pelas mulheres presentes.

Acho que é por isso que não tenho muitas amigas. Aliás, hoje tenho poucas amigas, mas são todas verdadeiras. Sei quando posso contar com elas e evito sobrecarregá-las com minhas frustrações diárias, com meus infortúnios secretos. E cada uma delas sabe o quanto a sua presença em minha vida torna tudo mais fácil de levar. Viva o feminino, nas mulheres e nos homens!

As mulheres que me desculpem, mas o feminino é fundamental!

É tão fundamental como o sol roçando a pele, o vento arrepiando o pelo
Como a lua movendo os hormônios
Cheia de ideias
Nova de quereres
Crescente de amores
Minguante de tristezas
Na poesia da mulher cabe tudo, todos
Inspiração e expiração
Todas a rimas e esgrimas
Todas as frentes (únicas)
Todos os versos (do universo)
O infinito repousa no colo da mulher
O seio da natureza alimenta os filhos que ela gera
E seu ventre se abre em tantas possibilidades
Em tantos gozos e volúpias
Como se pelas suas coxas fosse aprisionado o impulso do vir a ser
Do que escorre e transcorre
Em tantas mexidas e gemidas
Nas idas e vindas
Mas também no que para e cria
No que gera e silencia
O feminino é fundamental
Mas é o masculino que acalenta, alimenta e sustenta este impulso vital
E é por isso que só funciona se fizermos juntos: homem e mulher, feminino e masculino!


Um comentário:

  1. Oi Mi... super delicado, sutil, carinhoso... que resgate em guriaaaaaaa... adorei... parabens...
    é muito bom ler isso ver fora o que está dentro...rssss... e haja cafe da manha pra tanta terapia!!!! beijos... sucesso...ma

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