terça-feira, 6 de julho de 2010

A gente medita ou pensa que medita?


Meditação não se ensina apenas se mostra o caminho para o praticante, mas depois é com ele. Aprendi muitas técnicas ao longo dos meus estudos e participação em cursos de Yoga. Nem todas as técnicas consegui colocar em prática e sempre preferi a boa e velha observação na respiração. Foi assim que Buda se iluminou, não foi? Mas até chegar a este ponto ele ralou e muito. Ele fez uma limpeza interna em sua mente. Ele tinha muitas dúvidas, muitas crenças. E foi meditando nelas que ele “despertou”. Não tenho bem certeza, mas deve ter sido assim. Aventuro-me um pouco no Budismo e respeito esta religião, e Buda, sem dúvida, foi um grande mestre.

Sinto informar, mas até conhecer meu professor, eu não entendia como a meditação poderia me levar a um estado de mente serena, se toda vez que fechava os olhos para meditar, vinha um pensamento, uma emoção, algo que fica lá no limbo para me pegar de surpresa. Eu tentava ignorar, evitava qualquer contato direto com esses samskaras (que são essas impressões acumuladas ao longo da nossa vida, desde o primeiro trauma que é o nascer). No Yoga tem alguns mestres que falam que a gente não deve dar muita atenção a estas impressões, que aos poucos, de tanto a gente ignorá-las, elas vão enfraquecendo em nossa mente. Mas comigo não estava funcionando.

Foi então, num curso em 2008 com meu professor, lá na Chouprana, que comecei a entender como funciona a meditação, na prática. Pela primeira vez ouvi um professor de yoga falar para meditar no samskara, ir até a raiz, a causa. Entendi, então, o que é fazer o caminho de volta no Yoga e que chama nivrtti marga.

É claro que não é tão simples assim, porque quando você resolve encarar a raiva, por exemplo, ela vem com mais força e você começa a testar a sua capacidade de manter o foco (dharana), de criar um bloco psíquico (ekagrata) que sustente o processo. Se conseguir, suportar física e emocionalmente a raiva amplificada pela mente (por isso que a prática de Hatha-yoga é necessária), você está preparado para meditar (dhyana) sobre ela. E quando “sacar” (samadhi) o que é real e o que é ilusório, Budhi, o intelecto, se ilumina e o sentimento da raiva se enfraquece dentro de você.

Quero aproveitar e falar de Ken Wilber. Eu gosto deste cara, mas ainda não entendo quase nada do que ele escreve, e olha que já li uns quatro livros dele. Entretanto, ele tem muitas visões que a maioria de nós ainda não está preparada para compreender. Vou citar algumas partes do seu livro Espiritualidade Integral: “a meta da meditação é desprender-se ou não se identificar com qualquer coisa que surja. A transcendência é, há muito tempo, definida como um processo de não-identificação".

E aí aparece a raiva, e Wilber continua: “se minha raiva surgir em percepção, e for autenticamente vivenciada e reconhecida como minha raiva, então a meta é continuar a não-identificação. Contundo se a minha raiva surgir em percepção e não for vivenciada como a minha raiva (mesmo que foi outra pessoa que tenha gerado ela em mim), eu a transferir para o outro, a meta é primeiro identificar-se com ela e retomá-la.”

Ele diz ainda: "porém, se essa retomada da sombra não for empreendida primeiro então a meditação sobre a raiva simplesmente aumenta a alienação – a meditação se torna “transcender e negar” – que é exatamente a definição de desenvolvimento patológico, ou transcendência doentia.”

Isto tudo me fez refletir sobre o que meu professor falou. Wilber conclui que: “mesmo meditadores e mestres espirituais avançados costumam ser assombrados pela psicopatologia (samskaras, por assim dizer), pois suas sombras os perseguem até a Iluminação, deixando um rastro de destruição pelo caminho.”

Ou seja, enquanto não aceitarmos a sombra (os samskaras), podemos meditar uma vida toda que nada vai acontecer, ou pior, criar uma psicose, que todos percebem menos você.

Tem outro autor que fala do mesmo assunto de uma forma diferente, o budista Jack Kornefield em seu livro Depois do êxtase lave a roupa suja, onde ele conta inúmeras história de monges budistas que depois do êxtase suas vidas se tornaram mais difíceis, por conta de suas próprias personalidades, moldadas polos samskaras e que precisavam, antes, serem “trabalhadas”.

Meditar é encarar a si mesmo, sem rodeios. Como um mestre já disse: “Meditar é ser quem você realmente é!” Simples como uma flor desabrochando na primavera.

Nenhum comentário:

Postar um comentário