segunda-feira, 12 de julho de 2010

Quem ajuda quem?



Sempre procurei professor substituto, mas não encontrava. Primeiro porque meu estilo de prática era um pouco diferente e segundo, os poucos professores que existiam já estavam comprometidos com suas aulas. No primeiro ano como instrutora precisei tirar umas férias, visitar minha família. Tive que “importar” um professor do sul. Ele curtiu e as alunas também. Imagine um professor com cara de Jesus e um sorriso perfeito. Foi o maior alvoroço na chouprana.

No segundo ano, caiu de pára-quedas outra professora do sul. Queria porque queria morar no calor e ficou na minha casa alguns meses. Excelente companhia de prática e estudo e maravilhosa nas artes culinárias. De repente apaixonou-se por um aluno do espaço muito querido. E ele levou-a embora para o sul, e junto minhas esperanças de ter uma parceira no Yoga e comer bem até o resto dos meus dias!

Quando fui para Noruega, veio outro anjo do sul que cuidou dos meus alunos, da minha casa e do meu filho. Devo a esta pessoa toda a gratidão, pois sua passagem em minha vida deixou rastros luminosos em meu coração e de todos que a conheceram.

Sempre tinha uma “neura” que precisa ter uma parceria na Casa de Yoga. Incentivei até um aluno que adorava a prática, a fazer um curso de yoga e ele fez. Consegui meu professor substituto! Trabalhamos juntos algum tempo até que ele começou a trilhar sua própria trajetória como professor de yoga. Ele diz que se sente agradecido por ter-lhe inserido no Yoga. Se ele soubesse (vai saber agora) que ele é que tem sido um grande mestre, pois ele tem algo que eu não tenho e duvido se terei: calma. E também um carro que fez muitas mudanças minhas! Pronto já falei.

Hoje posso afirmar que tenho uma companheira no Yoga e que temos crescido muito juntas. Estudamos, praticamos, damos boas risadas e nos divertimos com a nossa ignorância (avidya). Ela é como uma irmã mais nova. Tem sempre me apoiado e me dado muitas orientações sobre as minhas aulas e nos cursos de formação. Quando a conheci, sei que a assustei com meu jeito aberto e já dizendo que ela poderia dar aulas no meu espaço. Ela tinha recém chegado a Natal e só me ligou procurando um local para praticar. A minha carência era tão grande de trocar com outros professores, que me empolguei quando a conheci e também depois que vi a sua competência como professora de yoga. Outra coisa que nos atraiu foi a cumplicidade no estudo. Somos ávidas por ler e quando uma compra um livro, a outra já quer ler. E se for muito bom, compra um igual para não ter briga.

O satsang, o encontro de pessoas com o mesmo objetivo e interesses, acelera a nossa evolução no caminho do Yoga. Considero alguns alunos como o reflexo de todo o meu aprofundamento na senda. Estes alunos tornarem-se amigos e mantemos uma relação de amizade assentada no conhecimento do verdadeiro Yoga. Eles sempre que podem, participam dos cursos, ajudam com recursos financeiros e pessoais, divulgam a filosofia do Yoga e são exemplos vivos da dedicação. Agradeço a eles, porque através da sua presença em minha vida, pude estabelecer o meu propósito (que chamamos de Sankalpa: um pensamento firme e positivo) e ele tem se cumprido na medida em que compreendo e aceito o propósito maior.

Lembro-me da primeira vez que a minha professora esteve em Natal, em 2005, e vi a sua perplexidade em relação à maneira como me relacionava com todos. Em tão pouco tempo eu já tinha criado uma rede de pessoas em volta da Casa de Yoga. O marido dela comentou que eu tinha uma facilidade em me relacionar e que me mostrava sempre aberta. Coisa difícil de entender para quem mora no sul. Mas eu estava no nordeste e aqui é muito quente. O frio afasta um pouco as pessoas, o que deveria ser ao contrário. E na última vez que ela esteve, foi pior, porque eu dependia de muita gente para poder organizar o evento em que ela participaria como palestrante. Eu falei que vim aqui para aprender a aceitar a ajuda dos outros. No sul eu era muito independente, me achava a tal. Hoje tenho reconsiderado muito deste padrão de não aceitar o que lhe é oferecido. Aceito de bom grado e sempre que posso, retribuo.

As pessoas que me ajudam se sentem atuantes e felizes por poderem contribuir com o trabalho que tenho feito em Natal, divulgando o Yoga, trazendo os nomes mais reconhecidos e respeitados no meio para criar uma egrégora forte que ajude a sustentar esta chama. Sei que é isso que vim fazer aqui e alguns professores de Natal tem me agradecido por este esforço. Já me falaram que sou a empreendora do Yoga. Isso faz parte da minha personalidade. Faço o que eu gosto e que acredito. E se eu parar de fazer é porque já cumpri algo dentro de mim. Precisamos ser independentes, principalmente na nossa prática pessoal. Precisamos de orientação para cada etapa em que vamos evoluindo, mas o caminho é feito pelas próprias pernas do caminhante. Já falei muito sobre isso.

O Yoga é revolucionário, porque ele nos faz anarquistas, no sentido de sermos donos do nosso nariz e responsáveis por nossas irresponsabilidades. Nos torna plenamente independentes. O professor lá na frente é só um mero instrutor e ele só pode te guiar até onde foi. E quem disse que o aluno não pode ir além? Ele deve arriscar-se, não se limitar às aulas que freqüenta. Investigar, questionar, experimentar! Esse é o perfil do genuíno yogue ou yoguini. E se possível, abrir mão do seu instrutor e ver o quanto pode progredir andando no fio da navalha. O aluno é como um bebê começando a andar. O instrutor segura ele até certo ponto. O bom instrutor é aquele que solta o aluno no momento certo de ele andar, sem cair. E se cair faz parte do aprendizado.

Nos últimos dois anos eu abandonei muitos alunos por circunstâncias do momento, não que estivessem preparados. Dá para contar nos dedos de uma mão aqueles que poderiam continuar seguindo sozinhos. Isto porque somente alguns conseguiram ou desejaram compreender a essência do Yoga. Ter muitos alunos não é tão importante, quando não se depende exclusivamente do yoga para sobreviver. Às vezes é melhor ter poucos e dedicados do que muitos entrando e saindo.

O Yoga é uma arte. A arte de ser livre em meio aos tentáculos da ilusão. São tantos braços que se estendem em nossa direção que muitas vezes nos deixamos envolver. Como escreveu meu professor ao conversarmos sobre a ilusão (maya): “O universo, o uno no diverso, é um grande circulo multidimensional. A realidade última e a manifestação são a mesma coisa, esse é o segredo de qualquer escola de filosofia perene: tudo existe e tudo não existe, depende de como e onde está a tua consciência".

Nenhum comentário:

Postar um comentário