quarta-feira, 23 de junho de 2010

Entre o Céu e a Terra



O que pode existir entre o Céu e a Terra? Muitos filósofos com certeza já se questionaram e continuarão se questionando. Se houve ou haverá alguma resposta provável a esta indagação, jamais caberá neste finito espaço em que se desenrola a existência. Céu e Terra são apenas imagens para criar um ponto de referência entre a existência limitada que nos encontramos (Terra) e a possibilidade de expansão da consciência (Céu).

Como uma arrogante professora de yoga que me tornei, descobri, pela minha própria arrogância (e graças a ela) o quanto de avidya (ignorância real) ainda existe em meu pensar em relação ao que eu pressupunha “conhecer” sobre o Yoga. E me vi, literalmente, perdida entre o céu e a terra que construí ao longo dos meus estudos e práticas. Uma base não tão sólida, mas que me dava uma “certa vantagem” em relação a quem pudesse vir a ameaçar o meu domínio. Que coisa horrorosa que um professor de yoga (ou qualquer outra pessoa) pode dizer a respeito de si mesmo! Está parecendo uma justificativa das minhas escolhas impensadas ou uma breve purgação dos erros cometidos? Deixando estas distrações (os famosos vrttis) de lado e voltando ao significado disto tudo (e ainda busco um), vou começar esta história sobre Céu e Terra. E foi assim:

Em 2007 fui fazer um curso sobre Anatomia do Yoga com um professor argentino, indicado por uma amiga que já o conhecia e me incentivou a conhecê-lo também. Como eu já era professora de Yoga e há alguns anos não me reciclava, decidi fazer o tal curso. Não sei contar quantas vezes meu queixo caiu, ou minha mente deu nó, ou meu corpo empertigou-se. Só sei que depois deste curso ficou difícil ser a mesma, comigo e com os outros. Minha vontade mesmo era largar tudo e vender água de coco na praia, e já que moro em Natal, seria moleza, não têm concorrência e o lucro é excepcional. Daria para eu virar uma asceta* em um mês. Bom, deixando estas lucubrações e retornando o foco, foi nesse curso que entendi o que é o Céu e a Terra do Yoga.

Aconteceu quando este o professor, na poesia mais precisa que um corpo pode expressar, mostrou a mim e a quem estava aberto, o que era esta conexão Céu e Terra. Saiba que escrevo em 2010, o que eu senti em 2007, para que acreditem quanto certas impressões mentais (samskaras) são saudáveis, pois me recordo e, mais do que isso, sinto, ainda, a volúpia dos asanas (posturas do yoga) que geraram todo este frenesi em meu ser e que me fez perceber uma porta se abrindo em direção ao verdadeiro Yoga. Esta conexão é a sequência do Guerreiro e que vou tentar expressar no próximo texto.

*asceta é alguém que não mora em nenhum lugar, mas gosta de estar na floresta, sem dinheiro, sem roupa, e que vive dos frutos que caem das árvores e da caridade das pessoas. É alguém que não mais compactua com a sociedade em que vive, por livre e espontânea vontade. Para nós, no ocidente, é ser um mendigo.
*samskaras é tudo o que entra na nossa cabeça, na nossa mente, tanto pensamentos bons como ruins, tudo que falam para gente, tudo que vemos, tudo que acreditamos, tudo que sabemos, todo lixo mental que acumulamos sob forma de conhecimento.
*asanas são aquelas posturas que criam expansão em nosso corpo, aumentam nossa energia, alongam nossos músculos, nos dão força e flexibilidade e nos preparam para a jornada do Yoga.

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