quinta-feira, 9 de setembro de 2010

De perto ninguém é normal.





Estou há mais de seis anos em Natal e isto me leva a uma conclusão que todos temos um tempo diferente, ciclos diferentes. Isto significa que a cada ciclo há uma mudança, uma transformação a ser feita. E como o meu geralmente é de cinco anos, já estou de olho para ver qual será a mudança dessa vez. Tem gente que trabalha no mesmo lugar até se aposentar, mora no mesmo lugar até morrer, mantém as mesmas relações, fazem os mesmos passeios, e por aí vai. Eu admiro quem é assim, porque acho que deve ser desafiante manter-se num mesmo ritmo, ser constante. Mas também pode significar medo, medo de fazer o que nunca fez, de errar, de gostar de fazer diferente, de descobrir que existem outros significados de estar vivo. Arriscar-se pode significar a morte para muita gente. Estas pessoas querem ser arriscar sim, mas em algo seguro, gostam de saber onde pisam, querem saber o resultado.

Eu afirmo que admiro estas pessoas, mas não sou assim e nem saberia ser. Para mim seria a morte. A morte da minha criatividade, da espontaneidade, de poder se surpreender, de ver algo que nunca viu, de sentir sentimentos estranhos, às vezes confusos. É ser meio esquizoide. Percebi que este traço de personalidade aplica-se às pessoas excêntricas, mas não “loucas de pedra”, após ter lido o livro O QS – Inteligência Espiritual de Dannah Zohar. Essa característica justificaria as ideias de Einstein que modificaram a ciência e seu mundo previsível. Também se aplica aos grandes revolucionários, como Gandhi, entre outros. E os artistas, que se pode dizer deles senão pessoas geralmente “desencaixadas” da realidade vigente? Como Campbell disse: “os artistas acessam algo que nós, pessoas preocupadas com as contas no fim do mês, jamais conseguiriam acessar, enquanto acreditarmos que a vida é só pagar contas.”

Estes tipos esquizóides parecem esquisitos sim, mas de que outra forma poderiam “criar” as condições para uma nova ideia, um novo poema, uma nova expressão? Esses loucos, que não são de pedra, geralmente a sociedade perdoa porque inventaram uma nova ordem. Porque souberam aproveitar suas esquisitices para compreender o mundo e eles mesmos. Os outros loucos, que internamos, não tiveram e nem terão esta mesma oportunidade. Eles não conseguem ser compreendidos nesta forma que o mundo assumiu. Eles acessam outras formas, mas elas não se encaixam e “precisam” ser mantidos longe da sociedade. Depois que escrevi este texto participei de uma palestra sobre o encarceramento de pessoas com problemas mentais e a palestrante disse algo bem interessante sobre mantermos o distanciamento daquilo que é diferente de nós porque também vivemos encarcerados em nossos preconceitos.

Na tradição oriental a diferença entre um iluminado (uma pessoa autorealizada) e um esquizofrênico é que o primeiro mergulhou no oceano da bem-aventurança e nadou, e o segundo também mergulhou no oceano, mas afogou-se, e o pior, ninguém sabe como ajudar e os poucos que tem vontade encontram dificuldades. O oceano significa o espaço onde o pequeno eu se funde com o grande Eu, com a totalidade, e a experiência de união chamada Yoga acontece.

Talvez eu queira justificar as minhas esquisitices e também afirmar que de perto ninguém é normal mesmo! Quanto aos ciclos, todos nós temos. Um ciclo pode durar uma vida toda, algumas décadas, poucos anos, parcos meses, mas todos nós possuímos ciclos que se abrem e ciclos que se fecham. Ciclos concêntricos e excêntricos (adoro esta palavra, não sei por que), numa espiral evolutiva e que inclui os ciclos anteriores e expande para a possibilidade de outros ciclos surgirem. Quem pensa que a vida é estática, que a gente fica olhando para o céu vendo o desfile do sol e da lua sempre do mesmo ponto, já morreu! Quem não se questiona sobre a vida, sobre si mesmo também já morreu! É a morte da percepção, da clara visão, da possibilidade de despertar.

Lembra que eu já disse que a roda gira porque nós giramos a roda? Mesmo que pensamos que estamos parados vendo os satélites, planetas e estrelas surgirem no céu ou, pior ainda, acharmos que tudo está do mesmo jeito desde o primeiro dia que o universo “Bum!” surgiu, afirmo que a roda gira sim. A consciência se transforma, a lagarta vira borboleta e o yogue que se ilumina recria o universo.

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