terça-feira, 21 de setembro de 2010

Outro papo de doido, ou o papo de doido é outro?




Quando estamos distraídos parece que a vida nos trai. E é neste instante que nos enganamos. Não há traição, há um grande equívoco por parte da nossa mente. No Yoga a mente é a grande articuladora da realidade em que vivemos. Como não percebemos o fluxo, criamos um tempo linear que se move do passado para o futuro e o quebramos em momentos (segundos, minutos, horas, anos, vidas) e, ainda pior, acreditamos que há continuidade.

De acordo com o físico Allan Wolf, esta história de tempo é a falsa ilusão que criamos para nos situar em algum lugar no espaço da existência, para sabermos quando temos que pagar as contas, ir ao dentista, tomar a pílula, marcar a cesárea, definir o fim de um relacionamento ou começar um novo, parar de ser ridículo e por aí vai.

E nesse ponto o Yoga, na visão mais tântrica, é genial, porque não há nada de errado nesta criação, ela apenas existe para o nosso benefício. E que beneficio? O de nos libertar dos nossos condicionamentos, de percebermos que o real e o ilusório são a mesma coisa e que só precisamos olhar para isto. É um olhar, um perceber que está além e também dentro do que criamos. Parece papo de doido? É e não é. Depende da percepção, de “abrir” a mente e não de esvaziá-la. De dar espaço para outras possibilidades. Só assim integramos e expandimos em consciência e liberdade.

Isso exige treino. Um treino do olhar. Uma atitude mais libertária, sem categorias, sem preconceitos de como as coisas devem ser. Isso bloqueia a nossa percepção, aliena e não agrega. Então vamos treinar. Temos muitas oportunidades ao longo de um só dia. Podemos começar com uma situação que nos aflige. Pare um instante, alinhe sua coluna, respire várias vezes com profundidade e entrega. Não queira controlar nada e abra o coração a cada respiração. Sinta como seu coração fosse pétalas de uma flor se abrindo e sinta a sua aflição, não racionalize, não defina, não explique, não julgue. Deixe que ela exista realmente e acolha, aceite, entregue e não espere nada.

Na principal escritura do Yoga, é ensinado que preciso de treino e desapego. Não diz que é para pararmos de pensar, e sim de olharmos para esses pensamentos e dar uma direção, um fluxo ininterrupto, de tal forma que não seremos mais distraídos ou “traídos pela vida”. Seremos, sim, atraídos para a plenitude desta e de todas as outras vidas.

Temos muitas situações para treinar e desapegar. Comece agora e só pare quando sentir-se leve como a risada de um bebê e livre como “uma calça velha, azul e desbotada que você pode usar do jeito que quiser, só não usa quem não quer...”. Esse era o jingle de uma propaganda de uma marca de calça jeans de um tempo que não volta mais. Era boa! E aproveito par citar uma frase retirada de um texto do blog do Kelmer e faço das suas linhas as minhas (será que dá?): “ Liberdade é sermos quem realmente somos em nossa essência mais legítima. É uma velha idéia azul e desbotada. Mas que nunca vai estar na moda. Ainda bem. “

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