quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Vir à tona ou afogar-se?




Filho! Salve o texto que eu deixei aberto no teu computador porque vou dar aula agora!” E quando retorno ele me diz: “Mãe, sabia que você estava escrevendo sobre Yoga!“ Pois é! Se existe um assunto que me instiga, é este. Falei que já escrevi sobre ele nos capítulos anteriores, mas me disse que não quer ler. E me lembrei de um dia que escrevi um e-mail para ele (eu em Natal e ele em Curitiba) tentando justificar o injustificável. Escrevi sobre o que poderia ter escrito para ele naqueles anos de ausência, coloquei em palavras o que nunca poderia ser escrito, somente vivido. Então ele me respondeu: “Mãe, não precisa escrever nada, pois eu já leio faz tempo!” Então compreendi que ele sente quem eu sou e o que estou fazendo mais do que eu mesma posso compreender. Uns anos atrás, vendo um filme com criança, o meu coração de mãe se apertou e liguei para ele e pedi perdão por estar longe dele. Ele me respondeu com uma pergunta: “Mãe, você não está feliz? Isto é o que importa!” Desliguei o telefone e naquele momento comecei a ter dúvida se estava feliz. E como não posso evitar, recorro aos ensinamentos do Yoga que afirma que a felicidade plena é aquela que surge quando não temos dúvida, quando nossas escolhas são conscientes e vemos em tudo a perfeição. Independe de uma situação, de uma relação. Ela é e ponto final.

Então percebo o quanto sou feliz e como as pessoas sempre contribuíram em suas atitudes (positivas ou negativas, não importa) para que eu seja feliz. Meu filho é muito sábio e sempre demonstrou compreensão e aceitação pelas minhas escolhas que, de certa forma, transformaram a nossa relação. Fazer o que ninguém faz é arriscado, não há garantias. Entretanto, depois de ver tanta gente fazendo sempre as mesmas coisas e ainda se questionando se foi o certo, ou seja, ficando em dúvida, prefiro o risco de ter feito o que acreditava ser o melhor do que viver uma vida “morna”, como minha mãe uma vez falou, ou como diz o prof. Hermógenes, na normose.

Meu filho sabe que eu jamais me encaixaria nos padrões das mães da escola, das mães dos seus amigos, mas ele também é meio desencaixado por assim dizer. O fruto não cai longe do pé, não é mesmo? Eu e o pai dele sempre nos sentimos peixes fora d’água. De vez em quando, o peixe sobe para tomar um ar e, quando vai à tona descobre que existe outro mundo, outras possibilidades. O difícil é mergulhar novamente para a sua realidade.

Neste ponto gostaria de explicar o que não dá para explicar, mas acredito que o Yoga é este subir à tona, quando o peixe põe a cabeça para fora da água, e também é o submergir, quando ele retorna à vida marinha. O Yoga é este fio tênue que conecta as duas realidades e que, de tempo em tempo, podemos ir acessando sem morrer pela boca ao sentir a plenitude, ou sem se afogar na sua própria realidade!

Essa história de peixe me fez lembrar o que escreveu uma das mais atuantes professoras de Yoga que conheci em Natal que e que me convidou para fazer participar de um congresso de Yoga. Eu enviei um e-mail dizendo que nunca havia participado de nenhum congresso e que eu era como um peixe fora d´água. E me surpreendi com a resposta que ela me deu. Ela lembrou um dos primeiros discípulos de Shiva, Matsya, ele era um peixe e aprendeu Yoga vendo Shiva ensinar sua esposa Parvati. Ela escreveu que provavelmente Matsya deveria estar fora d’água. E continuo contando que Shiva vendo o interesse do peixe o tornou o primeiro a divulgar seus ensinamentos, dando origem à linhagem dos Nathas e do Hatha-Yoga. Achei muito simpático a colocação e adoraria ser esse peixe da mitologia hindu, mas não tenho muita habilidade dentro da água. Apesar de adorar as posturas que levam o nome de Matsya, gosto mesmo é de estar com meus pés bem firmes na terra, como a postura da montanha.

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